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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

3º Capitulo

- Julia?
A menina virou um pouco a cabeça, mantendo o rosto ainda oculto pelas sombras do quarto, sua pele pálida refletiu a luz do sol proveniente da porta recém aberta. A faca coberta de sangue em suas mãos se chocou com o edredom azul escuro sob a cama. Julia se virou completamente, o rosto bonito e magro agora continha quatro arranhões de unhas que o cortavam de cima a baixo, deformando as sobrancelhas e a boca. A menina de olhos azuis, cabelos castanhos e sem expressão partiu ao encontro de Alessandra que no primeiro momento pensou em reagir ... mas era sua irmãzinha, nunca conseguiria. Ainda bem pois a garota não estava infectada, apenas com medo, caso a tivesse atacado acabaria se tornando uma assassina, nunca se perdoaria.
A garota abraçou sua irmã mais velha que prontamente perguntou enquanto analisava os arranhões no rosto - O que aconteceu aqui ? - Julia nada respondeu, sua expressão de confusão agora era aparente, seus olhos não conseguiam se manter focados no rosto de Alessandra, estava desnorteada.
William checou o corpo que jazia no quarto, escondido pela cama, era aparentemente um infectado que morrera devido a inúmeras facadas na barriga - Ela esta bem ? - ele perguntou enquanto fitava o cadáver.
- Não sei, fisicamente parece que sim ... - Alessandra  mais uma vez observou os arranhões no rosto da menina - Mas por algum motivo ela não me responde, parece estar distante. Ela ainda reage a estímulos visuais mas ..... eu não sei, precisamos de um hospital ... de um médico ! - O tom de desespero era crescente, lágrimas começavam a escorrer pelo rosto da jovem que amparava sua irmã.
- Vai tudo ficar bem - William respondeu, usando uma frase típica dos mocinhos de filmes românticos. - O tempo esta virando, vai esfriar, pegue agasalhos nas malas e qualquer coisa útil que encontrar. Partiremos logo. - O tom de voz firme do rapaz inspirou confiança em Alessandra, que acompanhada de Julia começou a arrumar uma pequena bolsa escolar com suplementos, logo após colocar alguns curativos no rosto da menina.

Alessandra conseguira arrumar blusas para todos, uma rosa para a irmã, que ela trazia em uma das malas, uma jaqueta marrom de zíper e sem capuz para si mesma, que encontrara no quarto ao lado. E uma jaqueta preta em cima de uma moto no estacionamento, a qual entregou a William.
A bolsa de suplementos ficou praticamente vazia, apenas ocupada com três barras de cereais, e uma de chocolate bem protegida por sua embalagem vermelha. Fizeram um levantamento de seus equipamentos, tinham trezentos e cinquenta reais, mais um cassetete e a arma do policial, uma pistola PT 940C. A qual após uma verificação eles constataram não estar cem porcento carregada, o velho tinha deixado apenas nove balas no cartucho. Não dez como a arma aguentava. Assim eles tinham apenas oito agora, após desperdiçar uma disparando contra um infectado na entrada do hotel.
Os três também tinham celulares, inúteis agora devido o congestionamento das linhas telefônicas, mas por ver das dúvidas os mantiveram perto e desligados para polpar bateria.

Por volta das sete horas o dia havia ficado calmo, talvez porque estavam afastados das grandes confusões, mas com a desvantagem que estavam isolados do resto do mundo sem receber nenhuma notícia. Alessandra tentou repetidas vezes ligar para os pais, pelo celular e telefone fixo do hotel, todas fracassarão. Estavam agora sentados sobe a cama do quarto vizinho ao que estavam hospedados, longe do cadáver morto por Julia, planejando o que fariam em seguida. A ideia inicial era partir imediatamente, mas se modificou para esperar até o dia seguinte - não era seguro sair a noite - e procurar alguma forma de deixar a ilha, os dois apostavam todas as "fichas" que a unica coisa que ainda estaria funcionando era a balsa.
Foi quando a concentração do casal se quebrou, o alarme do carro de policia havia disparado, produzindo um som tão irritante e alto que chegava a ecoar pelas estradas vazias. Os dois sairão correndo imediatamente, William na frente com cassetete em mãos, Alessandra em seguida com a pistola carregada acompanhada de Julia que se encolhia atrás dela, uma atitude estranha para alguém daquela idade, o trauma que ela sofrera talvez tivesse sido forte demais.
Ao chegar no corredor ao ar livre do segundo andar do Hotel, eles observaram o carro de policial com suas sirenes vermelhas piscantes e porta do motorista aberta. O grupo desceu as escadas e se aproximou devagar, observando atentamente o veículo, de cor banca predominante e vermelha, cinza, preta no capô e nas portas. William chegou no vidro da janela e fitou o interior, estava vazio, adentrou-o inseriu a chave na ignição e desligou o alarme.
Alessandra olhou em volta, a procura do velho. Nada encontrou.
Um olhar mais atento pode notar uma pequena chave de metal no chão do veiculo, como não havia pensado naquilo? obvio que um policial experiente guardaria uma cópia da chave das algemas para emergências. William pensou em como fora idiota ao esquecer daquilo, mas se distraiu ao notar a menina ao seu lado fitando o rádio que estava fora do lugar, ele rapidamente retorquiu a curiosa e calada Júlia - O velho deve ter tentado fazer contanto com a central antes de fugir - Alessandra se escorou sobe a janela do passageiro perguntando - Acha que ele conseguiu ?
O homem a olhou pensativo - Não sei ... só ouço estática ... se ele conseguiu, pode ter reforços a caminho. - um ruido de gemidos e urros distante alcançou os ouvidos deles, num primeiro momento congelaram, Alessandra tomou iniciativa - O alarme pode ter chamado a atenção daquelas ... coisas? - com um movimento de cabeça ele respondeu sem muita certeza, positivamente. - Acho que não poderemos esperar até amanhã então, vou pegar a mochila, verifique o resto do carro...
Em menos de cinco minutos eles checaram a condição do carro, buscaram a bolsa de suplementos e partiram.

A noite caiu rápido, em minutos uma tarde no paraíso se transformou, com a ajuda de nuvens carregadas vindas do sul, numa noite triste e melancólica. Gotejava no parabrisa da viatura, os faróis estavam acessos, eram a unica coisa que evitava que saíssem da estrada, as luzes da cidade a frente os guiava como uma bussola. O clima de tranquilidade não durou muito, perto da entrada da cidade "principal", apenas denominada assim por estar ligar ligada ao porto. Um congestionamento de carros vazios e cheios impossibilitou totalmente o avanço.
- Teremos que seguir a pé - declarou William, Alessandra pensou logo que seria perigoso, e que precisavam esperar até os carros da frente abrirem espaço, ou que o congestionamento acabasse. De todas as ideias que tivera, ela concordava depois que essa não tinha sido a melhor delas. Os dois começaram a discutir, a moça com os argumentos de que precisava defender a irmã, que deixar o carro era praticamente um ato suicida na atual situação. Enquanto o cara dizia ser melhor partir, ficar sentado ali era como esperar a morte, se ela queria mesmo proteger a irmã, tinham que sair agora.
William não ligava realmente para Alessandra, ele tinha um certo sentimento como por qualquer ser humano, de não querer que os outros morram, não daquela maneira terrível. Ele na verdade queria apenas se salvar, aquela moça ainda levava a pistola PT 940C, sua maior proteção. Se a deixa-se, obviamente ela não o deixaria levar a arma, nem que para isso atirasse nele, e provavelmente o faria para proteger a irmã.
Em contra ponto ele não roubaria a arma e deixaria as duas desprotegidas, ele podia ter um instinto de auto preservação exacerbado, mas não era mal, prejudicar outra pessoa para seu próprio bem não fazia seu tipo.
O tempo estava correndo e ele sabia disso, quanto mais eles ficassem parados naquele local, mais em perigo estariam. Uma escolha precisava ser feita, seguir Alessandra numa decisão errada e provavelmente morrer com isso, ou destruir seus princípios, passar por cima daquilo que acreditava, do seu senso de justiça. Roubar a arma das garotas e fugir as abandonando para os mortos.
Era uma escolha difícil, e se a moça estivesse certa ? e se apenas precisassem ficar ali mais um pouco, passariam seguros. Sem as armas elas morreriam.
Os questionamentos encheram sua mente .... O planeta estava mudando, mesmo que ele não soubesse disso, naquele novo mundo que nascia, a linha entre o bem e o mal não era tão bem definida. Seria necessário repensar nas barreiras que criamos, se devemos continuar a segui-las para sermos "bons" ou se estaríamos dispostos a passar por elas, abandonar nossa dignidade para sobreviver. Deveríamos deixar nosso instinto de auto preservação subjugar nossos princípios?

As vezes uma grande batalha não se resume a sangue e tripas sendo lançadas ao ar, mas sim a conflitos internos que podem acabar causando muito mais dado e sofrimento.

Continua ...